segunda-feira, 4 de março de 2013

A Canga na Roda. Que Praga!


Sabe o que é uma canga? Sabe não? Valha-me Deus! 

Canga é um negócio que se pendura no pescoço da cabra, ou da vaca, ou do cavalo, para ele não conseguir passar pela cerca e ir embora, entendeu? Só não sabe o que é uma canga quem nunca foi num sítio, não criou nem um bicho, ou nunca usou uma canga e, segundo meu amigo Pedro Aragão, brincou de bola de vidro no tapete (olha a foto da canga, lá embaixo).

Então. Eu, Pedro, Ana e Zilda, que Deus a tenha (ela está em Miami, perneando também), estávamos desbravando o mundo em 2009. Alugamos um carro e saímos pela Europa, vagueando. Carro grande para quatro pessoas e seis malas. Quase uma VAN. Eu e Pedro como os motoristas-oficiais-das-duas-damas-chefes-de-estado-da-União-Europeia. E autênticos cavalheiros, lógico. Dirigia eu a 180km e Pedro a 280km (podem dar algum desconto, se quiserem) nos divertindo. Ana e Zilda tremiam de medo, amarelando. Que danado! Pra que foi que fizeram aquela autopistaultrarápida? Bota esse negócio pra correr! E corríamos!

Chegamos em Praga. Ou chegamos a Praga? Valham-me os professores de Português. Fomos ao centro, bem ali ao lado do relógio do sol. Para estacionar o carro, encontramos um lugarzinho bem apertadinho, mal cabia uma bicicleta. Coube-me a sorte de ser o responsável por enfiar o carro naquela brecha, apesar de que ninguém acreditava que fosse possível. Cheguei a ouvir aquela frase-macho-desafio: eu digo que tu és macho se conseguires colocar este carro aí (claro que não foi com este bom português. Ficaria sem graça).  Estufei o peito e...

Botei pra fora a minha carteira de motorista Detran de Caruaru ano 1985 e mostrei pros "pragueanos" e "brasilianos ali boquiabertos" como é que se estaciona um carro grande naquele aperto. Estacionei, e de uma carreada só. Primeira-ré-primeira, e pronto! Sou macho ou não sou? Aplausos e reverências e elogios e babações e apertos de mao e abraços calorosos não faltaram. Viva Edson Luiz!!!

Saímos. Andamos. Tiramos fotos. Conversamos, sorrimos, comemos, cansamos e voltamos. Quando chegamos na brecha, ali onde havíamos deixado o carro, e no afã de mais pernear,  não pudemos sair. Tinham colocado uma canga na roda do carro. O carro não ia pra frente, não pra trás, tampouco pro alto por conta de uma tal de gravidade que inventaram por lá. O carro estava preso. Cangado. Parado. Algo do tipo never move again!

E agora, como diabos é que solta isso? Valha-nos Deus de Praga!

No vidrão da frente, havia um recado (oxente! a CTTU por aqui?) ligar para a Politzei. Carácolis aládius, é proibido estacionar em brecha! E sou eu o responsável! Vou ficar preso aqui por uns trocentos dias ou meses ou anos ou a vida inteira! Vão rasgar meu passaporte! Coitada da minha carteirinha Detran de Caruaru ano 1985! Vão-me meter o chicote, sem pena! Vou apanhar pra fofar (nordestinamente falando)! Eu me sentia um lixo, queria sair correndo, mas não sabia em qual direção. Resolvi esperar, às gargalhadas. Sou um homem ou não sou? Enfrentá-los-ei! mesocliticamente falando.

A Politzei chegou e explicou o porquê de o carro estar preso: aquele lugar era estacionamento exclusivo dos moradores, estava escrito na placa pregada (ou "Pragada") na parede. Ora, por que não escrevero isso em bom portuguêis? Nóis teria lido e entendido e num teria butado o carro aí. Mas que nada, escreveram em tcheco, aquela coisa gutural, feia de ler e de ouvir e de falar e que dá vontade de mandar ir tomar... água, pra limpar a garganta. Pagamos 100euros, tiraram a canga e a gente foi embora, dividindo a conta: 100euros divididos por 4 passageiros = rombo de 25euros. Bom castigo! Quem manda não saber ler em theco? Quem manda botar aquela coisa grande num lugar tão pequeno? Quem manda ter carteira de motorista brasileira e ser capaz daquela proeza? Quem manda botar as rodas onde não deve? Quem manda se deixar encangar? kkk.

A minha veia Zilda quase morreu de medo, mas depois ressuscitou gargalhando de quase morrer. Eu estufei o peito e saí achando que tudo aquilo acontecera por conta da inveja theca diante da minha tamanha habilidade estacionamental: estacionar um carro grande num aperto daqueles? Multa nele! Pedro, agora dirigindo, e Ana, serviço-guia-GPS-ambulante, informando o caminho. Voltamos ao hotel, quarto, cama e sono, aguardando o outro dia que viria, pelas ruas de Praga, em boa companhia, que é a melhor coisa do mundo!

Os quatro batepernas, soltos pelo mundo.

Carro grande pra caber esse tanto de gente e de mala.

Haja espaço e tamanho e mala.

A Canga. A de Praga era toda de ferro. Sem boquinha sem perdão!

Um comentário:

  1. Que delícia de texto! Já sabia dessa estória por Zilda. Que perrengue vocês passaram, hein... Esses momentos é que marcam uma viagem, quando dá tudo certo fica sem graça, sem causos para contar e ri depois.
    Boa viagem!!!!

    Abraços, Lucineia.

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